Mesmo quem aplica conservadoramente em renda fixa no Brasil não deve pensar que é desnecessário se preocupar com questões políticas, econômicas e fundamentos de empresas. Os últimos anos no Brasil trouxeram altos juros reais e moeda valorizada, mas muito do ganho real oriundo dos juros está sendo corroído pela desvalorização do real, que empobrece em dólar. Cenário pior foi para quem acreditou que imóveis, que com raras exceções, geram baixa rentabilidade, quando não negativa.
Não há como ficar alheio, sem analisar o ambiente e deixar de agir quando necessário. Logo, se o preço para relativa tranquilidade é atenção permanente, em vez de passividade, a consequência lógica é buscar diversificar os investimentos em uma carteira que contenha diferentes tipos de investimentos e aplicações.
Na montagem da carteira há várias filosofias de investimento que podem ser consideradas. Acompanhando o mercado há anos e sendo ávido leitor, inclusive de história, são raríssimos os casos no médio/longo prazo, de gestor de investimentos de sucesso focado em especulação de curto prazo (os chamados “traders”). Ao contrário, o sucesso privilegia os gestores preocupados com a análise dos fundamentos da economia, da política e de empresas.
Ademais, a Internet trouxe desafios para a análise de setores e empresas, pois as poucas empresas que conseguiram escalar via o efeito rede – “quanto mais gente adere, mais gente quer aderir” – cria grande efeito disruptivo, inicialmente nas empresas concorrentes e, em segundo momento, em setores e empresas não imaginadas inicialmente. Um bom exemplo é o mercado de cerveja nos EUA: as grandes empresas dominavam o mercado com folga graças a capacidade de usar mídia de massa para estimular o consumo de suas marcas. As mídias sociais baratearam muito atingir o público, e junto com o crédito farto e barato provido pelos mais de 7 mil bancos, muitas pequenas marcas de cerveja surgiram e tomam fatias de mercado das grandes.
Ou seja, dificilmente hoje há um setor ou uma empresa que não possa sofrer disrupção se permanecer imóvel. Logo, o gestor de investimento deve trabalhar em algumas vertentes:
– Que impactos gerarão políticos e o judiciário?
– Que outras questões podem impactar o ambiente de negócio (demografia, etc) ?
– Que novas empresas de tecnologia podem criar efeitos rede (sabendo que não é fácil descobrir)?
– Que preço é razoável investir em empresa que criou efeito rede?
– Que setores e empresas tradicionais devo investir, a bom preço, que tenham certa proteção contra a disrupção?
Paulo Areas